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sábado, 29 de dezembro de 2012

CONTAÇÃO DE HISTÓRIA



Como usar a voz na contação de histórias

Uma platéia receptiva, uma boa história e muita disposição poderão ser a receita ideal para uma sessão de fantasia.
O contador senta-se, acomoda as crianças à sua volta, recorda mentalmente a seqüência que usará e pronto: começa a narrativa.

Mas será isso suficiente?

Muitas vezes, só estar preparado não adianta, é preciso que a audiência entenda as palavras que serão ditas. O raciocínio pode estar perfeito, todos os detalhes vivos, o encadeamento das idéias absolutamente sincronizado, porém pode acontecer que, por diversas razões, a audiência não consiga entender o que está sendo dito.

Uma coisa é indiscutível: para se falar em público, mesmo que seja simplesmente contar uma história para um pequeno grupo de crianças, não se utiliza a voz da mesma forma que em uma conversa coloquial entre duas ou três pessoas. Deve-se ter consciência de que a voz está sendo usada para comunicação com um grupo. Isto faz com que a atenção seja diferente, a distância entre as pessoas maior, além do objetivo a ser alcançado ser outro.

Alguns elementos são fundamentais para que a platéia entenda o que está sendo dito e aproveite o conteúdo da mensagem. Estes elementos estão ligados principalmente à voz a são:
  • Dicção
  • Volume
  • Velocidade
  • Tonalidade
  • Vocabulário

# Dicção

A dicção é freqüentemente culpada quando uma mensagem não é entendida. Se as palavras não forem bem pronunciadas, a mensagem é recebida de forma truncada, porque a não-compreensão de uma palavra pode levar à incompreensão de toda a frase, e não entender uma frase pode prejudicar o entendimento de toda a história.

O pior é que, se a dicção for ruim, não é só uma palavra que não é entendida, e sim várias.  No final, a comunicação é reduzida a uma sucessão de palavras incompreensíveis, apenas porque não se cuidou de falar claramente palavra por palavra, ou, para ser mais exato, sílaba por sílaba.

Para ter boa dicção o primeiro passo é tomar o cuidado de pronunciar de forma clara cada uma das sílabas que compõem a palavra, sentindo cada um dos seus sons.

Problemas mais comuns de pronúncia:

  • R, S E L no final devem ser cuidadosamente pronunciados.
  • Encontros de vogais no meio da palavra: ae, ei, ou também devem ser bem pronunciados. Quando se encontram no meio das palavras também, principalmente o “i” que é muito esquecido como por exemplo: peneira, madeira, ribeirão, etc
  • Encontros consonantais: br, dr, p, gr, tr.. sóbrio, sobrado, dramático, planetário, platinado, grupo, gravura, triturado, troféu, etc..
  • Troca do “l” no final da palavra por “u”: Brasiu no lugar de Brasil, aniu no lugar de anil...
  • Outra atenção que se deve ter é dar espaço entre uma palavra e outra, procurando não emendar as palavras de uma mesma frase. No final das frases, onde há virgulas a voz deve ser levemente elevada e quando tiver  ponto final a voz deve fechar na última palavra e o espaço deve ser maior.

Muito conhecido é o exercício da rolha, porque contribui de fato com a melhora da dicção. Ele é desenvolvido da seguinte maneira:
·         Escolher um texto e fazer a sua leitura pausadamente e em voz alta.
·         Colocar uma rolha entre a arcada dentária superior e a inferior.
·         Ler novamente o mesmo texto esforçando-se para pronunciar as palavras com clareza.
·         Ler novamente o texto sem a rolha e perceber a diferença
·         Se for possível, acompanhar o exercício com um gravador, será mais fácil notar as diferenças.

A rolha provoca dificuldade para pronunciar as palavras. O exercício faz com que, para vencer esta dificuldade,o treinando movimente mais os lábios, a língua e o palato mole.  A repetição do exercício acaba tornando estes movimentos habituais, conseqüentemente melhorando a dicção.

O treino ajudará a dar naturalidade no uso correto das palavras, porque uma preocupação exagerada no momento da narração atrapalhará o raciocínio e dará um tom artificial, o que de certa forma chega até a ser antipático.

# Volume

Embora pareça ser uma coisa simples, o principal problema que impede a compreensão de um discurso ou narração é quando ele é feito em voz muito baixa. As pessoas simplesmente não escutam.

O narrador deve ter consciência de que ele não está à mesma distância das pessoas do que quando está conversando informalmente. Outro fator é que quando se está próximo, as pessoas complementam a interpretação por meio dos movimentos dos lábios e das expressões faciais, o que também fica prejudicado com a distância.

O inverso é muito desagradável: falar alto demais, gritando.

Assim, pessoas que estão falando em público devem ajustar o volume da voz à situação em que se encontram.

Cada ambiente exigirá um volume de voz adequado e isto precisa ser avaliado. Os seguintes fatores devem ser levados em conta nesta avaliação:

  • Distância entre o narrador e sua platéia: Evidentemente, quanto mais longe estiverem os ouvintes, mais alto deve ser o volume da voz para a narrativa.
  • Tamanho da sala: Se o ambiente é grande, ele exigirá um volume maior, mesmo que as pessoas estejam perto do narrador. O “pé direito” (altura entre o chão e o teto) influencia muito – se for muito alto, a voz se “perderá” e necessitará ser um pouquinho mais alta.
  • Acústica da sala: O formato da sala e os materiais que a revestem influenciam a propagação da voz
  • Ruídos externos: Se houver concorrência com outros ruídos, certamente será necessário fazer um ajuste para contrabalançá-los.

Contar uma história ao ar livre, tendo a natureza como palco, é muito agradável, mas deve-se tomar cuidado com o volume da voz, uma vez que estamos em um lugar amplo (a voz se dispersa) e, na maioria das vezes, concorremos com ruídos externos.

Com a prática, estes fatores são automaticamente avaliados e acaba-se calibrando a voz adequadamente, sem perceber. No início, porém, é mais fácil fazer este ajuste com a ajuda de outra pessoa. Basta que esse colaborador se coloque na parte mais distnte da platéia e verifique como a voz está chegando lá.

Outro cuidado que se deve ter é não diminuir o volume da voz no decorrer da narrativa, um vício comum que precisa ser “policiado”.

# Velocidade

A velocidade por ser medida pelo número de palavras que uma pessoa pronuncia em um espaço de tempo determinado.
Cada narrador tem uma velocidade na fala, isto é uma característica individual. Mas deve-se cuidar quando esta velocidade influi na compreensão do texto.

A velocidade está muito ligada à boa dicção. Quem estiver com a sua dicção em desenvolvimento precisa, obrigatoriamente, falar mais devagar para ajudar na compreensão da sua comunicação.

Variar a velocidade da voz pode auxiliar na interpretação do texto: falar mais rápido pode passar mais emoção, um sentimento de urgência, e falar mais devagar é adequado quando se deseja passar um sentimento de paz, harmonia e serenidade.

Combinando-se as diversas variações de velocidade e volume, podem-se conseguir efeitos interessantes.

Modular a voz entre o baixo (limitado a um volume que todas as pessoas possam entender) e o alto (sem exageros, é claro!) e variar a velocidade dá o colorido à narrativa e tira a monotonia. A fala monocórdica, sempre na mesma cadência e ritmo, é um dos principais fatores de desinteresse, principalmente em se tratando de narrativa de histórias infantis.

# Tonalidade

Os sons classificam-se em graves e agudos. Cada pessoa tem o seu registro vocal próprio, mas facilmente pode alcançar alguns tons abaixo e acima desse registro. Isto será suficiente para conseguir efeitos surpreendentes.

A adoção de certos estereótipos ajudam a compreensão do texto, por exemplo:
  • meninas têm fala aguda, falam “fininho”;
  • homens corajosos sempre falam grosso e grave;
  • velhinhas falam levemente agudo e tremido;
  • fadas falam em tom adocicados e
  • bruxas têm voz aguda e estridente.

Os diversos personagens dentro de uma narrativa podem ter característica vocal própria, o que será muito atraente, mas também perigoso, pois necessita de atenção do narrador para manter a característica de cada personagem e alterna-la rapidamente na mudança de personagens e nos diálogos.

# Vocabulário

Outro fator importante: as pessoas podem não entender a comunicação porque não conhecem o sentido das palavras que estão sendo usadas, principalmente quando estamos falando com crianças.

Também neste caso a não-compreensão de uma palavra prejudicará o entendimento de toda a frase. A incompreensão de uma frase pode levar a uma sucesso de incompreensões, que acaba levando ao desinteresse e à desistência em acompanhar a narrativa.

O correto é usar palavras simples, das quais se tem a certeza absoluta de que as crianças às entenderão. Jamais usar gírias ou palavras vulgares: isto desprestigiará o conto e poderá dispersar a atenção das crianças.

Uma história cheia de fantasia poderá até permitir algumas palavras mais elaboradas, as quais darão um certo charme, um ar de “elegância” na narração, além de introduzir um novo vocabulário. Mas estes casos, que não devem ser usados com exagero, devem ser acompanhados de um reforço na frase, explicando com outras palavras o que já foi dito.
Por exemplo: “A pele da bela princesa era alva como a neve. Todas as pessoas admiravam aquela sua pele branquinha... que dava muito contraste com os cabelos pretos e olhos muito azuis”.

Sem abusar, também se pode usar alguma explicação no meio da narrativa, por exemplo:
“Entre os raios de Sol, as pessoas viram a figura de Pégaso, o maravilhoso cavalo alado. Vocês sabem o que é um cavalo alado? Alado quer dizer com asas. Cavalo alado, então, é um cavalo com asas, Imagine como este cavalinho era bonito, com grandes asas de um azul clarinho...”

Enfim, a voz é o instrumento principal do narrador. Saber usá-la é primordial e isto se consegue, como tudo, com treino e dedicação.

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