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domingo, 28 de abril de 2013

Reflexão: O modo como organizo as carteiras ou móveis, em minha sala de aula, é importante?

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A disposição dos móveis, em sala de aula, é importante? pode significar algo ou simplesmente denota preferências pessoais do professor ou da coordenação da escola? É importante pensar sobre esta questão ou supérfluo e desnecessário? 
 

Compreendo que, quando escrevo, escrevo para uma gama de pessoas que podem discordar ou concordar. Porém, esclareço que não escrevo para aprovação. Antes, para tentar esclarecer, talvez, aquele professor que sequer pensou na questão e faz escolhas ainda baseado na estética da sala de aula ou mesmo de acordo com o espaço que lhe é dado, na Escola onde trabalha. Escrevo, na verdade, no intuito de ajudá-lo a pensar sobre uma questão que não é banal e não pode ser menosprezada, nos dias atuais.

Posso arrumar minha sala de aula de acordo com meu gosto pessoal? Posso me orientar pelo espaço que possuo? Sim! Você tem total liberdade para organizar a sala de aula de acordo com o que julga correto ou mesmo de acordo com o espaço que lhe dão! Mas, que tal pensarmos um pouco sobre o assunto?

Uma sala de aula com carteiras enfileiradas, umas atrás das outras nos diz alguma coisa. A organização fala por si. O professor estará à frente, os alunos, uns atrás dos outros, enfileirados. O que isto nos diz? Os alunos não podem olhar-se nos olhos. Eles não podem falar com os amigos que se encontram nas carteiras de trás. Os amigos de trás, por sua vez, não podem falar com os amigos que estão à frente. A regra fundamental parece ser: olhar para a frente. À frente estão o professor e o quadro. A mensagem silensiosa, então, parece ser: professor é quem fala, professor é quem sabe. O quadro é importante, a cópia é importante, a comunicação é dispensável ou proibida, o silêncio é fundamental.

Isto funcionava antes? Na Escola tradicional? Será que sim? A pergunta que me faço, então, é: Que tipo de aluno queremos formar, em 2013, em plena era da velocidade de informação, em plena era da tecnologia? Quais são os nossos objetivos, quando fechamos a porta do mundo e ficamos a sós com 25, 30 ou mais crianças, dentro de uma sala, por 4 horas ou mais?

Não creio que funcionasse e não creio que funcione, hoje. As crianças que nos chegam hoje acessam jogos online, comunicam-se por e-mail e por inúmeros outros meios, sejam sms, recado de facebook e orkut etc. Nossos alunos interagem todo o tempo! Querem imagens, textos atrativos, diálogo e mais que isto: querem compreender o mundo que os cerca, questionar, conversar e participar. Mas, e a Escola? o que quer? A escola ainda quer silêncio, organização e disciplina cega? A Escola ainda quer as respostas copiadas dos livros? Ou já permite que pensem, que errem, apaguem, refaçam? A sala de aula que eu, professor, ofereço, é cabível aos alunos que me chegam, em 2013?

E o simples fato de modificar a organização destas carteiras irá modificar alguma coisa? Arrisque. ouse. Tente fazer algo diferente do que tem feito. Por um dia, proponha a seus alunos que discutam o assunto, antes que o texto seja copiado do quadro ou antes que a cópia seja entregue, pronta. Diga a eles: Vamos mudar a nossa sala? Que tal se a sala ficasse organizada de um modo que pudéssemos olhar nos olhos uns dos outros? De modo que pudéssemos conversar sobre o assunto em pauta?
Mas… Eles irão fazer a maior algazarra! A disciplina ainda é importante! O silêncio é vital para que aprendam! Desculpe, eu discordo. Não vejo disciplina como sinônimo de alunos enfileirados, calados e receptores improdutivos. Não consigo enxergar uma disciplina onde tudo o que se faz é obrigatório, onde ninguém aprende a raciocinar a lógica do comportamento em grupo e as regras básicas da convivência humana, em razão de um objetivo comum, no caso, a aprendizagem de coisas novas, a vivência de novas e interessantes experiências. Que disciplina é esta, que me serve do portão da escola para dentro e respiro aliviado porque saí de lá e posso ser “eu mesmo”? Que eu é este, que a Escola ainda despreza?
Dá trabalho. Sim, dá trabalho reorganizar tudo. É mais fácil pedir silêncio e mantê-los numa posição cômoda, enfileirados. Estando nesta posição, qualquer olhadela para trás ou para o lado é quebra de contrato. E onde está a beleza disto? Eu recebo um ser, uma pessoa e simplesmente bloqueio todos os seus movimentos e falas, veto sua participação, não permito que raciocine e muito menos que erre! Não tenho tempo para mostrar-lhe a beleza da dinâmica de sala de aula, a beleza de ouvir o outro, de escutar sua opinião, de saber quem são as pessoas que me cercam, todos os dias! Nem ao menos posso partilhar com ele que existem regras sociais, que existe sim uma dinâmica do respeito ao outro e dos limites que preciso me impor e conhecer para não prejudicar quem está a meu lado.
Estou generalizando? Sua sala de aula pode ter as carteiras enfileiradas e isto não significa que você faça nada do que foi descrito acima? Não pense no que escrevi, não pense em mim. Esta não é minha intenção. A intenção do vir a ser deste texto é promover uma reflexão, uma auto avaliação. olhe para dentro de você. Feche os olhos, visualize a sua turma, visualize o dia a dia, em sua sala de aula. O que você vê? Se você consegue realizar este movimento e ver sorrisos, se consegue enxergar alegria, comunicação, vida, dinamismo e regras, sim, mas regras com razão de ser, com a dinâmica do “eu sei porque estou em silêncio agora e sei que neste momento, ele é importante para quem está a meu lado e para mim”, então você já pode imaginar uma organização para a sala de aula que possa condizer com a realidade diária.

Mas… Na faculdade todos nos sentamos enfileirados! um dia eles precisarão aprender que na vida é assim mesmo! Gente, tomara que nossos alunos, a despeito de todos os índices de nosso país, consigam chegar à faculdade! Vou além, que eles sejam cidadãos alfabetizados que de fato compreendam o que leem. porque a grande maioria ainda não é capaz de fazê-lo. E que cheguem à faculdade tendo sido formados por hábeis mãos que souberam mostrar o quanto é importante raciocinar e não apenas engolir de olhos fechados, sem pestanejar. Que eles saibam que aquelas questões de múltipla escolha servem apenas para selecionar, quando não existe outro meio ou alguém interessado em ler o seu texto e saber quem você é.

   Se você conseguir fechar os olhos e imaginar alegria em meio a aprendizagem, em sua sala de aula, se enxergar felicidade, se visualizar tentativas, curiosidade, erros em meio a acertos, diálogo, regras com razão de ser e por que não criadas pela própria turma? Então, siga em frente, sem pestanejar. E teime. Seja teimoso, professor, em defender a alegria em sua sala de aula, o uso das tecnologias, idéias inovadoras sobre reciclagem que daqui a um tempo deixarão de ser “arte” e passarão a ser necessidade de sobrevivência para o planeta. Siga, sabendo que tem dado de si o melhor. Mas que não seja o melhor, pelo salário que recebe, pois assim o seu melhor passará  a ser o pior, visto que em nosso país enxergam professor como titio e titio não precisa receber para lecionar, é pago com amor e carinho. Mas isto já é matéria para outro texto e outras discussões… Apenas, siga.

Texto: Profa Elizabeth Freitas