A disposição dos móveis, em sala de
aula, é importante? pode significar algo ou simplesmente denota preferências
pessoais do professor ou da coordenação da escola? É importante pensar sobre
esta questão ou supérfluo e desnecessário?
Compreendo que, quando escrevo, escrevo
para uma gama de pessoas que podem discordar ou concordar. Porém, esclareço que
não escrevo para aprovação. Antes, para tentar esclarecer, talvez, aquele
professor que sequer pensou na questão e faz escolhas ainda baseado na estética
da sala de aula ou mesmo de acordo com o espaço que lhe é dado, na Escola onde
trabalha. Escrevo, na verdade, no intuito de ajudá-lo a pensar sobre uma
questão que não é banal e não pode ser menosprezada, nos dias atuais.
Posso arrumar minha sala de aula de
acordo com meu gosto pessoal? Posso me orientar pelo espaço que possuo? Sim!
Você tem total liberdade para organizar a sala de aula de acordo com o que
julga correto ou mesmo de acordo com o espaço que lhe dão! Mas, que tal
pensarmos um pouco sobre o assunto?
Uma sala de aula com carteiras
enfileiradas, umas atrás das outras nos diz alguma coisa. A organização fala
por si. O professor estará à frente, os alunos, uns atrás dos outros,
enfileirados. O que isto nos diz? Os alunos não podem olhar-se nos olhos. Eles
não podem falar com os amigos que se encontram nas carteiras de trás. Os amigos
de trás, por sua vez, não podem falar com os amigos que estão à frente. A regra
fundamental parece ser: olhar para a frente. À frente estão o professor e o
quadro. A mensagem silensiosa, então, parece ser: professor é quem fala,
professor é quem sabe. O quadro é importante, a cópia é importante, a
comunicação é dispensável ou proibida, o silêncio é fundamental.
Isto funcionava antes? Na Escola
tradicional? Será que sim? A pergunta que me faço, então, é: Que tipo de aluno
queremos formar, em 2013, em plena era da velocidade de informação, em plena
era da tecnologia? Quais são os nossos objetivos, quando fechamos a porta do
mundo e ficamos a sós com 25, 30 ou mais crianças, dentro de uma sala, por 4
horas ou mais?
Não creio que funcionasse e não creio
que funcione, hoje. As crianças que nos chegam hoje acessam jogos online,
comunicam-se por e-mail e por inúmeros outros meios, sejam sms, recado de
facebook e orkut etc. Nossos alunos interagem todo o tempo! Querem imagens,
textos atrativos, diálogo e mais que isto: querem compreender o mundo que os
cerca, questionar, conversar e participar. Mas, e a Escola? o que quer? A
escola ainda quer silêncio, organização e disciplina cega? A Escola ainda quer
as respostas copiadas dos livros? Ou já permite que pensem, que errem, apaguem,
refaçam? A sala de aula que eu, professor, ofereço, é cabÃvel aos alunos que me
chegam, em 2013?
E o simples fato de modificar a
organização destas carteiras irá modificar alguma coisa? Arrisque. ouse. Tente
fazer algo diferente do que tem feito. Por um dia, proponha a seus alunos que
discutam o assunto, antes que o texto seja copiado do quadro ou antes que a
cópia seja entregue, pronta. Diga a eles: Vamos mudar a nossa sala? Que tal se
a sala ficasse organizada de um modo que pudéssemos olhar nos olhos uns dos
outros? De modo que pudéssemos conversar sobre o assunto em pauta?
Mas… Eles irão fazer a maior algazarra!
A disciplina ainda é importante! O silêncio é vital para que aprendam!
Desculpe, eu discordo. Não vejo disciplina como sinônimo de alunos
enfileirados, calados e receptores improdutivos. Não consigo enxergar uma
disciplina onde tudo o que se faz é obrigatório, onde ninguém aprende a
raciocinar a lógica do comportamento em grupo e as regras básicas da
convivência humana, em razão de um objetivo comum, no caso, a aprendizagem de
coisas novas, a vivência de novas e interessantes experiências. Que disciplina
é esta, que me serve do portão da escola para dentro e respiro aliviado porque
saà de lá e posso ser “eu mesmo”? Que eu é este, que a Escola ainda despreza?
Dá trabalho. Sim, dá trabalho
reorganizar tudo. É mais fácil pedir silêncio e mantê-los numa posição cômoda,
enfileirados. Estando nesta posição, qualquer olhadela para trás ou para o lado
é quebra de contrato. E onde está a beleza disto? Eu recebo um ser, uma pessoa
e simplesmente bloqueio todos os seus movimentos e falas, veto sua
participação, não permito que raciocine e muito menos que erre! Não tenho tempo
para mostrar-lhe a beleza da dinâmica de sala de aula, a beleza de ouvir o
outro, de escutar sua opinião, de saber quem são as pessoas que me cercam,
todos os dias! Nem ao menos posso partilhar com ele que existem regras sociais,
que existe sim uma dinâmica do respeito ao outro e dos limites que preciso me
impor e conhecer para não prejudicar quem está a meu lado.
Estou generalizando? Sua sala de aula
pode ter as carteiras enfileiradas e isto não significa que você faça nada do
que foi descrito acima? Não pense no que escrevi, não pense em mim. Esta não é
minha intenção. A intenção do vir a ser deste texto é promover uma reflexão,
uma auto avaliação. olhe para dentro de você. Feche os olhos, visualize a sua
turma, visualize o dia a dia, em sua sala de aula. O que você vê? Se você
consegue realizar este movimento e ver sorrisos, se consegue enxergar alegria,
comunicação, vida, dinamismo e regras, sim, mas regras com razão de ser, com a
dinâmica do “eu sei porque estou em silêncio agora e sei que neste momento, ele
é importante para quem está a meu lado e para mim”, então você já pode imaginar
uma organização para a sala de aula que possa condizer com a realidade diária.
Mas… Na faculdade todos nos sentamos
enfileirados! um dia eles precisarão aprender que na vida é assim mesmo! Gente,
tomara que nossos alunos, a despeito de todos os Ãndices de nosso paÃs, consigam
chegar à faculdade! Vou além, que eles sejam cidadãos alfabetizados que de fato
compreendam o que leem. porque a grande maioria ainda não é capaz de fazê-lo. E
que cheguem à faculdade tendo sido formados por hábeis mãos que souberam
mostrar o quanto é importante raciocinar e não apenas engolir de olhos
fechados, sem pestanejar. Que eles saibam que aquelas questões de múltipla
escolha servem apenas para selecionar, quando não existe outro meio ou alguém
interessado em ler o seu texto e saber quem você é.
Se você conseguir fechar
os olhos e imaginar alegria em meio a aprendizagem, em sua sala de aula, se
enxergar felicidade, se visualizar tentativas, curiosidade, erros em meio a
acertos, diálogo, regras com razão de ser e por que não criadas pela própria
turma? Então, siga em frente, sem pestanejar. E teime. Seja teimoso, professor,
em defender a alegria em sua sala de aula, o uso das tecnologias, idéias
inovadoras sobre reciclagem que daqui a um tempo deixarão de ser “arte” e
passarão a ser necessidade de sobrevivência para o planeta. Siga, sabendo que
tem dado de si o melhor. Mas que não seja o melhor, pelo salário que recebe,
pois assim o seu melhor passará a ser o pior, visto que em nosso paÃs
enxergam professor como titio e titio não precisa receber para lecionar, é pago
com amor e carinho. Mas isto já é matéria para outro texto e outras discussões…
Apenas, siga.
Texto: Profa Elizabeth Freitas
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